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jota januzzi
BraSil
VIEMOS DE UM ANO DE REESTRUTURAÇÃO DE EVENTOS…
e também de entendimento de como é o público pós pandemia, que é bastante renovado. Recomeça aí um trabalho de mentoria desses novos públicos que já foi feito muitas vezes ao longo do tempo. A cena é orgânica e em todo novo ciclo pessoas saem e pessoas chegam. Isso traz a necessidade desse trabalho que vai além da entrega, um trabalho de educação musical, mostrando os diferentes gêneros que fazem parte desse grande leque que forma a música eletrônica, para além do que se chama genericamente de “techno”.
É muito importante que esse trabalho de mentoria seja feito com muito carinho e também competência, para que essas pessoas se tornem consumidoras de música eletrônica no dia-a-dia de suas vidas – e não só no momento da festa. Você fideliza o público quando consegue despertar a paixão delas por aquilo, trazer o entendimento sobre toda a cadeia produtiva que forma essa cena e fomentar de forma vital para que a cena continue existindo de forma sólida.
Acredito que existem várias formas de se quebrar esse paradigma de que música eletrônica só se ouve quando está "high". Uma delas é mostrando que fruir música eletrônica é muito mais amplo do que só a música de pista na hora da festa, com uma função exclusiva de fazer as pessoas dançarem. Em todo o resto do tempo, existem gamas de outros gêneros e sub-gêneros de todos os estilos que são mais palatáveis para se consumir fora da festa, e essa é uma forma de se capturar um pouco disso: dessa atenção, esse despertar. Por isso são importantes os sets na internet, onde é possível explorar a percepção do ouvinte para diversos estilos de música, e mostrar que existe música eletrônica para todos os momentos.
Acho que sou melhor DJ e pesquisador do que produtor. Eu acabo direcionando a minha energia de concepção e produção para a narrativa dos meus sets e, assim, acabo construindo sets com narrativas mais fortes, amarradas e artísticas. Isso é, de certo modo, uma forma de produção, porém aplicada na seleção de músicas e na execução de sets.
Música eletrônica é um estilo de vida. Para quem trabalha com isso, sabe o que é produzir festa, entende o significado sociocultural dessa atividade, isso é um estilo de vida. Vai além de ser só música ou só um trabalho. E a responsabilidade é imensa por ser um trabalho feito para pessoas. Então, a maneira com que você impacta aquelas pessoas é super importante, por que a forma como você as impacta e desperta paixões e interesses, seja pra se tornar público qualificado, para consumir ou se tornar profissional da cena. Quase 100% dos DJs surgem da pista, são pessoas que eram frequentadoras de festa e começam a se interessar tanto que atravessam esse limite e a necessidade de música eletrônica no dia a dia de suas vidas se torna tão essencial que vai além de estar na pista. É aí que você começa a entender o poder deste ambiente.
Gosto musical é uma questão muito pessoal. Cada pessoa chega à cena com sua própria bagagem musical, moldada de acordo com quão sensibilizada ela está às experiências que já teve. Não acho que todo mundo tem que gostar de música eletrônica ou qualquer outro gênero. Somos bilhões de pessoas no mundo e sensibilidade é algo individual que tem a ver com a vivência e a bagagem cultural de cada uma.
A difusão cultural da nossa cena no Brasil poderia ser tão grande quanto na Europa, mas passa por várias questões, inclusive de políticas públicas que lá existem e aqui não. E do poder público lá fora fomentar esse tipo de movimento ou mesmo entender esse movimento enquanto expressão cultural. Então, hoje nós temos uma dificuldade advinda também de uma caretice muito grande do poder público não entender música eletrônica como manifestação cultural – diferente do que acontece com outros gêneros, como a música popular brasileira. Como consequência, não existem políticas públicas, agentes facilitadores, o que torna tudo mais difícil.
Também existe o fato que somos um país jovem em comparação com outros, especialmente aqueles da Europa, que já tem uma história de milhares de anos a mais, e, portanto, um amadurecimento cultural muito maior. Acho que nós somos jovens ainda e, assim, talvez esse maior reconhecimento e ganho de espaço ainda venha a acontecer, mas mais para frente. Não sei se eu vou ver isso, mas esse amadurecimento ainda vai acontecer para todo mundo: para quem frequenta, para quem trabalha e para sociedade como um todo. Só depois que atingirmos esse estágio “macro” é que vamos começar a ter uma expansão maior, e deixar de ser essa coisa vista como ghetto, underground.
Nos últimos cinco anos tivemos um movimento maior de DJs brasileiros tocando lá fora. Teve essa intromissão da pandemia, mas tendo a acreditar que isso será retomado. Já temos muitas pessoas talentosas levando o nome do Brasil lá para fora e mostrando um Brasil de música eletrônica de forma muito competente, não só como DJs, mas como produtores também, como o Zopelar. Como somos um país muito grande, é preciso também um olhar no que diz respeito à proporção dos nossos eventos: nós temos aqui eventos bem grandes, de massa, e acho que isso não permite que ninguém ignore a nossa cena ou deixe de ver o potencial do que é feito no Brasil. Tudo aqui atinge muito mais pessoas do que na maioria dos países da Europa, que são esses países com um desenvolvimento cultural muito maior, como disse, mas muito menores em termos de território ou população e, portanto, tendem a ter eventos menores. No nosso país, você tem muitas festas com 2, 3, 5 ou mesmo 10 mil pessoas. Acho que isso fala por si só. Demonstra o poder que essa atividade tem por aqui. Tem um público potencial muito grande a ser explorado.
Durante muitas décadas existiu uma percepção local que a cena internacional tinha mais qualidade. É claro que são circunstâncias diferentes, existências diferentes, não é uma questão de comparação. Mas muitas dessas complexibilidades já ficaram no passado e hoje temos festas e festivais de alta qualidade musical e organizacional. Acredito no Brasil como um país com vocação para a música eletrônica. As raves acontecem aqui desde os anos 90, assim como no resto do mundo. Atualmente exportamos e imprimimos um modelo brasileiro de música, que é totalmente único.
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alia
BELGIUM
I think people being conscious of their personal space and for instance, apologising when bumping into others is key to keeping a good vibe.